25 de abril de 1986. Data prevista para o inicio de trabalhos rotineiros de manutenção na unidade 4 da usina nuclear de Chernobyl próximo a Kiev, no sudoeste da antiga União Soviética.
Houve, no entanto, uma pequena mudança no cronograma original, planejada com a antecedência de praxe nestes casos. Antes do desligamento da unidade, o engenheiro eletricista - que não dominava profundamente as peculiaridades deste tipo de reator - no comando da operação ordenou a execução de uma experiência, destinada a testar a melhor forma de reagir a uma queda na alimentação elétrica dos sistemas de controle e manutenção.
A realização da experiência exigiu o desligamento do sistema de resfriamento de emergência e o uso de controles manuais, no lugar dos mais seguros mecanismos automáticos. O engenheiro responsável sentia-se seguro de si. Então, uma impressionante sucessão de equívocos se deu, sequer detidos diante dos disparos dos alarmes, ignorados pelo confiante engenheiro.
O procedimento do teste continuou até a madrugada do dia seguinte. À 1:23 horas a potência do reator começou a subir lentamente, além do previsto. Foi dada a ordem de desligá-lo, introduzindo todas as barras de controle. Mas elas ficaram bloqueadas no meio do caminho pela enorme pressão de vapor que percorria os tubos de circulação. Ouviu-se um estrondo não muito forte. O operador desligou os motores, movendo as barras na esperança de que caíssem pela força da gravidade. Mas isso não ocorreu; já haveria danos irreparáveis no núcleo do reator.
À 1:24 horas ocorreram duas explosões em seqüência, espalhando no ar centelhas e pedaços de material incandescente. Peças foram lançadas até o telhado e a sala de operações. Iniciaram-se vários incêndios. A tampa de cimento do reator, de 700 toneladas, foi violentamente levantada e jogada fora. Com a força da explosão, a máquina de carga de combustível caiu sobre o reator, aumentando a destruição.
O aquecimento excessivo da água do reator e reações químicas com o bloco de grafite produziram uma nuvem de vapor radioativo (com partículas de iodo, criptônio, xenônio, terúlio e césio) que escapou para a atmosfera.
Até o final do dia, já haviam dois mortos e 132 hospitalizados, dos quais 29 faleceram dias depois.
A nuvem de material radioativo atingiu logo uma altura de 1200 metros e seguiu em direção a Europa Central e Escandinávia. Dez dias depois já havia alcançado 12.000 metros de altura e se espalhando, também, pela Ásia.
Esse vapor radioativo passou a integrar o ciclo hidrológico e desceu à terra por meio de precipitação, formando a chuva radiativa. Quando os produtores absorvem a água radiativa acumulam a radiação e passam-na para outros níveis tróficos, sendo máxima no último consumidor da cadeia alimentar, geralmente o ser humano.
Uma das unidades de medidas usada para quantificar a dose recebida de radiação é o rad, correspondente a absorção de energia na ordem de 100 ergs por grama de tecido corporal.
Efeitos de uma exposição aguda, alta dose em pouco tempo.
Dose (rads) | EFEITO CLÍNICO |
<> | Redução no número de leucócitos |
100 - 470 | Hemorragias pelo nariz, náuseas, febre |
470 - 1200 | Morte da metade das vítimas em uma semana |
1200 - 1400 | Morte de todas as vítimas em uma semana |
1400 - 2500 | Morte a partir do 3º dia com lesões no sistema nervoso central |
Várias pessoas que estavam na usina no momento da explosão e bombeiros que acudiram o local para apagar os incêndios ficaram expostos a doses de 1200 a 1600 rads, vindo depois a falecer, como heróis nacionais. Num raio de dez quilômetros da usina, a radiação permaneceu no valor de 870 rads durante algumas semanas.
Depois do acidente, muitas pessoas na União Soviética apresentaram hipotiroidismo (queda na produção de hormônio da glândula tiróide) e câncer, principalmente na tiróide, órgão que acumula o iodo radioativo.
As populações da quase totalidade dos países europeus não devem ter recebido doses de radiação significativamente maiores do que aquelas a que estão submetidas as populações brasileiras de nossas áreas de alta radiatividade natural como Araxá, Poços de Caldas, Guarapari e Morro do Ferro (MG).
O mais grave acidente nuclear ocorrido no Brasil não teve as dimensões de Chernobyl. Tratou-se mais de uma tragédia familiar que serviu de lição a todos e de advertência às autoridades que precisam ser mais rigorosas no controle de material radiativo.
` Num ferro-velho de Goiânia, alguns sucateiros abriram uma velha e desativada bomba de Césio, retirada das ruínas do Instituto Goiano de Radioterapia. Sua cápsula possuía 19 gramas de cloreto de césio.
Ao ser arrombada, o brilho suave e semelhante a purpurina fascinou as vítimas, principalmente as crianças que chegaram a passar pelo corpo para que brilhasse no escuro.
Depois da festa, a tragédia. Dezenas de pessoas manifestaram os efeitos da radiação do césio-137: ulcerações, necroses, queimaduras na pele e perdas de dedos. Além de vários casos de invalidez, houveram muitos mortos.
Este infeliz episódio deve fazer as autoridades responsáveis pensarem em como estocar o "lixo atômico" - gerado em laboratórios, clínicas radioterápicas e usinas nucleares -, de modo a não permitir o escape de radiação ou o seu manejo acidental e inadvertido.
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