Aquecimento global e o direito das próximas gerações
“Estudos mostram que o desmatamento na Amazônia vai interferir no clima do planeta”.
Marco Pozzana Desde a Eco 92, quinze anos se passaram e as condições ambientais do planeta só se agravaram. Fruto dessa Conferência Mundial, a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima alertou a humanidade sobre a crise climática em curso. Recentemente a mídia divulgou o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que de novo mesmo só trazia a confirmação de que estas mudanças são conseqüências da atividade humana. Na verdade, o primeiro relatório do IPCC foi divulgado em 1990, mas os céticos que só foram derrubados pelas evidências do último relatório não deram muita importância e nossas instituições não se fomataram para combater as conseqüências nefastas do aumento das temperaturas do planeta devido à grande concentração dos gases de efeito estufa (GEE) derivada da queima de combustíveis fósseis. Segundo John Fyfe, do Centro Canadense de Modelagem e Análise do Clima, modelos climáticos como aqueles gerados pelo Earth Simulator, que faz previsões e atribuições, resolveram a questão da atribuição destas mudanças, apontando a atividade humana como sendo a causa do caos climático. Segundo Fyfe, observações feitas pelo simulador desde 1900 mostram que os modelos gerados estão próximos aos observados. O carbono antropogênico (derivado das ações humanas) é incluído na modelagem e sem essas informações dadas ao computador os modelos mostram até um resfriamento. O cientista alerta que a longo prazo importará as escolhas que estão sendo feitas agora. Os impactos começarão a ser sentidos a partir de 2100, mas alerta que, independente do que façamos hoje, não haverá variações até 2025. Não há nada que se possa fazer a respeito dos fenômenos climáticos que já estão em processo, como a queda na quantidade de neve que já se observa desde 1960, derretimento de geleiras, que desde 1979 perdem por década 10% de sua cobertura, e o aquecimento dos oceanos e sua conseqüente elevação, que segundo previsões será de 0,5m em média, o que é bastante significativo. ADAPTAÇÃO E RESPONSABILIDADES Todas essas evidências já fazem muitos países investirem em medidas de adaptação, ao invés de prevenção. Segundo Jonathan Verschuuren, professor de Direito Ambiental Europeu e Internacional da Universidade de Tilburg, Holanda, o país está buscando adaptação através de medidas tecnológicas, comportamentais, administrativas e políticas. As ações apontam para várias direções. Na agricultura há estudos que visam ajustar plantações a áreas que possam estocar água, consorciando atividades recreativas e aquicultura com a agricultura. Na área florestal, a idéia é introduzir espécies mais resistentes à variação climática e ainda criar áreas protegidas a prova dessas variações. A pesca também é motivo de preocupação e a Holanda pensa ajustar as cotas e diminuir o uso industrial.
As conseqüências do aquecimento demandarão grandes projetos como uma nova linha costeira, relocação de aeroportos, indústrias e cidades. Segundo o professor, os custos dessas medidas são uma barreira importante, mas há necessidade urgente de políticas de adaptação. Porém o processo é lento até na Europa. Bem, se a rica Europa tem dificuldades em implementar estes projetos o que se pode dizer das cidades pobres como Bangladesh, onde há previsão de grandes impactos por conta do aumento do nível dos oceanos?
As conseqüências do aquecimento demandarão grandes projetos como uma nova linha costeira, relocação de aeroportos, indústrias e cidades. Segundo o professor, os custos dessas medidas são uma barreira importante, mas há necessidade urgente de políticas de adaptação. Porém o processo é lento até na Europa. Bem, se a rica Europa tem dificuldades em implementar estes projetos o que se pode dizer das cidades pobres como Bangladesh, onde há previsão de grandes impactos por conta do aumento do nível dos oceanos?
DESMATAMENTO:
Vale lembrar que 70% de nossas emissões provêm de desmatamento e queimadas.Enquanto alguns países vão se movimentando, mesmo que lentamente, para minimizar os efeitos nefastos do aquecimento do clima, o Brasil evita se integrar ao processo de evolução, reforçando o conflito entre desenvolvidos e subdesenvolvidos. Demasiadamente preso a idéia da responsabilidade comum, porém diferenciada, o Brasil não aceita adotar metas de redução voluntárias, atitude defendida pelo deputado federal Fernando Gabeira. Apesar de não sermos os principais responsáveis pelo aquecimento do planeta, ele lembra que 70% de nossas emissões provêm de desmatamento e queimadas. Decidir soberanamente que vamos reduzir as emissões minimiza nossa responsabilidade caso não seja possível alcançar a meta. Gabeira lamenta que o único instrumento que tenha interessado o país seja o Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), que financia projetos de seqüestro de carbono, abatendo-os da cota dos países que têm metas obrigatórias de redução de emissões. Ele critica a visão brasileira do “o que posso ganhar com o aquecimento global”. Gabeira fez críticas a energia nuclear como opção energética, lembrando que essa atividade é intensiva no consumo de água, assim como os biocombustíveis, que para produzir um litro de álcool utiliza 4 litros de água. Além disso, seu cultivo também emite GEE, como o metano e o óxido nitroso. "Outra crítica diz respeito a necessidade de controle das emissões veiculares, projeto que não consegui passar no Congresso porque estados e municípios brasileiros brigam pelo dinheiro da inspeção veicular", diz o deputado. Irresponsabilidade?
VISÃO ESTAGNADA:
Outro defensor da adoção de metas voluntárias de redução dos GEE é o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, Eduardo Viola. Ele afirma que o país tem uma visão estagnada da Amazônia, é impotente para impedir o desmatamento e que o custo econômico para reduzir 2/3 do desmatamento na Amazônia por meio de monitoramento e controle é de apenas 0,3% do PIB, resultando num corte de 50% das emissões totais do país. O professor defende o “reforço dramático do estado de direito na Amazônia” e ainda o aumento na eficiência na conversão de parte da floresta para agricultura. Viola não acredita no sucesso do Protocolo de Kyoto como instrumento de redução das emissões, devido a obsolescência das responsabilidades dos países quanto a classificação de Anexo 1, aqueles com metas de redução, já que mudanças dramáticas ocorreram desde 1992 até 2007. Hoje, China, Índia, Brasil, México, Indonésia, África do Sul são emissores emergentes e deveriam ter critérios mínimos no Protocolo. “Os grandes emissores têm incentivos para cooperar e negociar porque estão fortemente integrados na economia globalizada e percebem sua vulnerabilidade à mudança climática. Juntos, grandes emissores (Canadá, Japão, EUA, União Européia, Austrália e Coréia do Sul) e emissores emergentes devem estabelecer metas de redução diferenciadas, segundo renda per capta e custo de redução, embora longe de ser baseado num princípio generalizado de equidade”. Segundo Viola, esta é a única forma de superar a lógica política e científica. A humanidade não pode afetar o clima do planeta, segundo o artigo 20 da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, lembrou o secretário-executivo do Fórum Paulista de Mudanças Globais e de Biodiversidade, Fábio Feldman. Para ele o grande desafio é convocar uma cúpula mundial sobre o clima e resgatar as discussões sobre o aquecimento global. Ele propõe ainda, a criação de uma Política Nacional de Mudanças Climáticas, com o objetivo de discutir a criação de políticas públicas visando diminuir as emissões brasileiras. Feldman propõe ainda uma ação judicial contra o governo federal, no caso do desmatamento da floresta amazônica. A idéia se baseia numa iniciativa histórica de governos estaduais e ONGs americanas, que querem que a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) regule as emissões de gases CO2 para proteger a população americana da exposição a poluentes do ar. Segundo Feldman, não há respeito à legislação existente, o que demonstra omissão do governo. A questão ambiental nos impõe uma série de desafios. Não conseguiremos sobreviver se não pararmos de consumir e poluir no ritmo frenético atual. Segundo o jornalista Washington Novaes, estamos além dos limites que não poderiam ser ultrapassados. Há uma crise no processo civilizatório e precisamos inventar novos modos de viver, de acordo com a capacidade do planeta. Construir outra sociedade, ética e instituições. A redução das emissões prejudica o desenvolvimento? Qual? O predatório ou aquele próximo ao desenvolvimento sustentável? Todas estas questões foram debatidas por especialistas em questões ambientais durante o Colóquio Internacional de Meio Ambiente, com o objetivo de enriquecer as discussões do IV Congresso Internacional de Direito do Ambiente da Procuradoria Geral do Município do Rio de Janeiro, que está sendo realizado durante esta semana.
FONTE:
(*) Márcia Pimenta é jornalista com especialização em Gestão Ambiental.
Um comentário:
Gostei do seu site.
Aproveitar e reaproveitar é o segredo para um bom ambiente.
Parabens !
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